Olá pessoal, tudo bem?
Hoje, vou falar sobre um filme que fui ver semana passada,
e que está envolto em algumas polêmicas, mas que (e talvez por isso) tem
conquistado muitos fãs.
Aquarius é um filme nacional que ficou bem conhecido no
festival de Cannes, que concorreu a palma de ouro no mês de maio, quando seus
idealizadores levantaram cartazes em protesto ao Impeachment da presidenta
Dilma Rousseff. Apesar de ter sido bastante aplaudido e elogiado
pela crítica internacional, o filme acabou não levando o prêmio, mas deixou
bastante clara sua mensagem.
Sinopse: Clara (Sonia Braga) tem 65 anos, é jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos. Ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. Interessada em construir um novo prédio no espaço, os responsáveis por uma construtora conseguiram adquirir quase todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaça para que mude de ideia.
Não recomendado para menores de 16 anos
O filme se inicia no
ano de 1980, mostrando um pedaço da vida naquela período, com Clara ainda jovem,
recém recuperada de um câncer de mama, comemorando os 70 anos de sua tia, uma
mulher a frente do seu tempo, que conquistou muita coisa em sua juventude. Esse
momento do filme vai dar início a mudança da passagem do tempo, nos levando a várias reflexões que vão surgir no decorrer
do filme, a partir do significado de cada detalhe presente em cena.
Como o filme retrata não apenas a história de Clara, nossa
protagonista, interpretada brilhantemente pela Sonia Braga, mas também o
apartamento em que ela vive, nós podemos ver o trabalho incrível da cenografia,
que nos fez enxergar a transição do tempo, a partir dos móveis e objetos
dispostos pelo ambiente, mostrando que o “velho” e o “novo” coexistem, se
complementam e resistem ali, assim como o próprio Aquarius, o prédio que se
mantém firme em meio aos edifícios modernos e de luxo, cumprindo naturalmente
sua função.
E a Clara, vem a ser a personificação disso tudo, afinal, ela
é uma senhora que leva consigo as marcas do tempo e das transformações
ambientais que estão constantemente acontecendo
a sua volta. Apesar de ter sofrido um câncer, de estar aposentada, não se trata
de uma velhinha que não consegue desapegar de suas coisas e daquela vida que
ela tem desde sempre, ela é uma mulher forte, lúcida e que percebe o mundo ao
seu redor, tendo se adaptado muito bem a ele. Isso fica muito claro quando o
enredo mostra ela usando um iPhone ao mesmo que ouve seus discos de vinil,
aceitando naturalmente o filho homossexual, dentre outras coisas que exprimem
sua capacidade de se reinventar enquanto pessoa, ou seja, ela, assim como o
Aquarius, não precisam ser substituídos por um modelo mais novo, já que esse
ainda “funciona” bem.
Em contrapartida, a trama trabalha várias outras questões,
como o papel da especulação imobiliária na transformação dos lugares, da
política, das oligarquias e da luta de classes, dentre muitas analogias que surgem e que
enchem nossa mente de reflexões. O diretor não entrou na discussão, ela apenas jogou um centelha deixando que nossas mentes trabalhassem e absorvessem cada um dos vários problemas sociais que vão passando em nossa frente, através dos diálogos que
acorrem entre os personagens, que são pessoas tão reais quanto nós, quanto seus
vizinhos, amigos e parentes.
As relações que se estabelecem durante o filme
mostram muito bem a fragilidade e importância das relações familiares, dos círculos de
amizade e de negócios, sob o pano de fundo do embate entre uma construtora que tenta a todo custo tirar Clara da
jogada, enquanto ela está lá, resistindo. E essa talvez seja a palavra-chave
desse filme... #Resistir.
Além de retratar a cidade de Recife de uma forma bem poética, quero ressaltar aqui a maravilhosa trilha sonora do filme, que vai de Roberto Carlos a Queen, ela nos leva a um passeio pelos anos 70 e 80, selecionada a dedo e de uma qualidade ímpar. Afinal, a personagem Clara é uma crítica de música e seria muito injusto com ela, se fosse diferente. Torcendo por um CD com essa trilha sonora, já!
Enfim, já falei demais, o filme é brilhante, atual e cabe
perfeitamente no contexto atual do país. E como li em uma das críticas da internet,
ele retrata nosso país em vários aspectos, por isso eu recomendo que todos o
vejam, com sua mente aberta e tentando captar cada detalhe, cada frase, cada
expressão, pois todas elas estão ali para lhe dizer alguma coisa.